Dilema das moedas do Satoshi
Não é possível determinar o número exato de quantos bitcoins terá o Satoshi, já foram efectuados diversos estudos, apesar de discrepâncias nos resultados, estima-se entre os 900 mil a 1.1 milhões de moedas.
A Arkham identificou apenas 3 endereços (P2PKH) pertencentes ao Satoshi, não esquecendo que no início não existiam endereços, os bitcoins eram enviados diretamente para a pubkey (chave pública, P2PK).
Este gráfico apenas contabiliza os bitcoins em endereços. Mesmo após o desaparecimento de Satoshi, a comunidade continua a enviar moedas para os seus endereços.
O endereço principal recebe regularmente moedas, têm mais de 38 mil transações, entre elas, destaca-se as seguintes:
Este ano, um anônimo doou quase 27btc, incrível.
O problema
A muito longo prazo, com o desenvolvimento tecnológico, os computadores vão ficar cada vez mais poderosos. Conforme os computadores vão evoluindo, o desenvolvimento da computação quântica, o bitcoin vai acompanhar essa evolução tecnológica, para se manter seguro. Os utilizadores terão que migrar de endereços mais antigos para endereços mais resilientes. É uma evolução natural.
O problema está nas moedas que estão em tecnologias/endereços mais antigos, sobretudo nos que têm a pubkey exposta, estes serão os primeiros alvos. Vai demorar muitos anos, mas um dia será possível ter acesso a esses UTXOs. O pagamento para P2PK foi utilizado entre 2009 e 2010, hoje em dia é quase inexistente.
Não é necessário entrar em pânico, os endereços SegWit são muito mais seguros e resilientes, porque oculta a pubkey. A pubkey só é revelada no momento em que efetua a primeira transação(enviar), assim para garantir uma melhor segurança é essencial não reutilizar endereços.
Só que existem 45370 UTXOs que não realizaram a migração para tecnologias mais seguras, isto representa mais de 1.7 milhões de Bitcoins, ou seja, 8.73% do supply.
Apenas uma minoria dessas moedas pertence a bitcoiners no “ativos”, a grande maioria pertence ao Satoshi e as pessoas que perderam as chaves. Apesar de tudo, esporadicamente algumas dessas moedas são movidas, este ano já foram 172 UTXOs, equivalente a 7707 BTC.
Além dos P2PK ainda existem os endereços que foram reutilizados, que tem a chave pública exposta, assim o número aumenta para 4 milhões de moedas, apesar de ser um número elevado, não é preocupante, porque parte destas moedas ainda tem donos ativos, quando for necessário, vão se mover para endereços mais seguros.
O dilema
«Moedas perdidas apenas fazem com que as moedas de todos os outros valham um pouco mais. Pense nisso como uma doação para todos.» – Satoshi
O problema é que essas moedas não estão perdidas para sempre, talvez daqui a 5 ou 20 anos, não sei, mas uma coisa é certa, um dia vão ser recuperadas e não serão pelos legítimos donos.
Assim, nos próximos anos a comunidade de bitcoiners terá um dilema para resolver, o que fazer com os Bitcoins do Satoshi/P2PK?
Existem duas possibilidades: não fazer nada e essas moedas voltam a circular ou então, mudar o código para bloquear as moedas para sempre.
Qualquer uma das soluções será algo extremamente polémica, certamente vai dividir a comunidade, vai ser uma discussão acirrada, dificilmente haverá um consenso, por isso é mais provável ficar tudo como está.
Vendo bem, o bitcoin vai passar por uma situação similar ao ouro, periodicamente são descobertas moedas de ouro, que foram escondidas durante décadas ou séculos pelos nossos antepassados. O ouro que estava “perdido”, volta à circulação.
Será uma nova corrida ao “ouro”, o resgate das moedas do Satoshi. Se esse resgate for lento e gradual, não terá grande impacto, mas se for num curto espaço de tempo será um enorme problema, são mais de 8% de supply que entram no mercado.
O preço poderá ser um problema, mas a meu ver, o grande problema é a busca em si, porque será mais lucrativo gastar energia na procura das moedas do Satoshi do que minerar novos bitcoins.
Será que a hashrate não cairá drasticamente? Colocando em causa a segurança da rede.
Esta é a minha principal dúvida e receio.
A minha opinião
Hoje eu penso que deveríamos optar por algo intermédio, nem com a proibição total, nem sem restrições.
Apenas nos blocos com o número múltiplo de 144, ou seja, um bloco por dia, seria possível incluir transações P2PK. Além disso, o número de transações por bloco seria limitado: 1 UTXO maior que 10 btc ou vários UTXOs com uma soma inferior a 10 btcs.
Este limite de “espaço” é suficiente para os legítimos donos das moedas efetuarem as transações no período pré quântica. No período pós quântica, se a quebra da criptografia for muito rápida, o limite de bloco vai criar uma gargalo, vai obrigar o aumento drástico do fee, reduzindo o lucro do “ladrão”, além de financiar os mineradores.
Conclusão
A minha ideia é muito complexa, mas o bitcoin é um protocolo simples, a comunidade é muito conservadora, dificilmente aceitaria algo assim tão complexo. Por isso eu digo, só existem dois caminhos plausíveis, ou não fazer nada ou a proibição total dos P2PK.
Mas vamos ter muitos anos para pensar sobre o assunto.