O Fantasma da CPMF e o Futuro Dinheiro
Em 2007, o Brasil comemorava o fim da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), um imposto que, embora "temporário", durou 10 anos e arrecadou centenas de bilhões de reais. Na época, o governo afirmava que a contribuição era necessária para financiar a saúde pública, mas, na prática, foi mais um peso sobre o cidadão e as empresas.
Agora, quase duas décadas depois, o cenário está mudando novamente. O monitoramento financeiro da Receita Federal sobre transações acima de R$ 5 mil e a implementação do DREX, a moeda digital programável do Banco Central, sugerem que o controle sobre o dinheiro nunca foi tão grande.
A pergunta que fica é: será que estamos caminhando para uma nova CPMF, só que digital e automatizada?
O Passado: CPMF e o Controle Estatal sobre o Dinheiro
A CPMF nasceu sob o pretexto de ser um imposto temporário, com uma alíquota pequena (inicialmente 0,20%, depois 0,38%) que incidiria sobre qualquer movimentação bancária. Seu objetivo oficial era financiar a saúde, mas a verdade é que o governo encontrou nela uma mina de ouro de arrecadação, garantindo bilhões de reais anualmente.
Os problemas começaram a aparecer rapidamente:
- O custo era repassado aos preços dos produtos e serviços, afetando toda a economia.
- Empresas e cidadãos pagavam sobre transações repetidas, tornando a carga tributária ainda maior.
- O dinheiro não foi totalmente para a saúde, sendo usado para tapar buracos no orçamento.
- A promessa de temporariedade caiu por terra, e a CPMF durou uma década.
- O governo insistia que não existia outro jeito de arrecadar sem essa cobrança, mas, quando foi extinta, nada desmoronou. Só ficou mais difícil tributar o cidadão sem que ele percebesse.
Agora, vemos novos mecanismos de controle financeiro surgindo. O argumento é o mesmo: transparência, combate à sonegação e otimização da arrecadação. Mas será que é só isso?
O Presente: Receita Federal Fecha o Cerco sobre Suas Transações
A partir de 2025, qualquer movimentação acima de R$ 5 mil para pessoas físicas e R$ 15 mil para empresas será automaticamente informada à Receita Federal. Isso significa que se você fizer uma transferência maior que esse valor, o governo já saberá sem precisar pedir dados ao banco.
Oficialmente, essa medida não implica na criação de um novo imposto. Mas, se a história nos ensina algo, é que governos não implementam esse nível de monitoramento à toa. Algumas questões que surgem:
- Se não é para tributar, por que monitorar tão de perto?
- Se a CPMF foi extinta, por que voltamos a um sistema de rastreamento financeiro tão intrusivo?
- Esse é só um primeiro passo para um imposto automático sobre movimentações digitais?
O Futuro: DREX e a Automação da Tributação
O DREX, a versão digital do real, será um grande passo para o controle financeiro estatal. Diferente do Pix, que apenas facilita transferências, o DREX permite que o Banco Central programe e rastreie cada centavo movimentado.
E o que isso significa para o cidadão comum?
- Pagamentos e tributações automáticas: um sistema de split payment poderia fazer com que impostos fossem cobrados diretamente na fonte, sem a necessidade de declarações ou boletos.
- Controle total sobre transações: diferente do dinheiro físico, que circula sem monitoramento, o DREX permitirá ao governo rastrear qualquer pagamento, em tempo real.
- Possibilidade de limitação de uso: com uma moeda programável, poderia haver restrições sobre onde, quando e como você pode gastar seu dinheiro.
O Banco Central e a Receita Federal garantem que não há planos de usar o DREX para tributação compulsória, mas a CPMF também começou assim: como algo temporário, necessário e inofensivo.
Estamos Caminhando para uma Nova CPMF Digital?
Se analisarmos a trajetória do governo na questão tributária, fica claro que:
- Primeiro, nega-se qualquer imposto novo.
- Depois, implementa-se um sistema de monitoramento, supostamente para "combater fraudes".
- Por fim, a tributação é introduzida sob a justificativa de que "não há outra saída". A CPMF só funcionou porque o dinheiro passava pelo sistema bancário e era fácil de rastrear. Agora, com o DREX e o monitoramento da Receita, o governo não precisaria nem de um imposto explícito para tributar transações—ele poderia simplesmente automatizar a cobrança diretamente na moeda digital.
O que antes dependia de aprovação no Congresso e resistência da população, pode agora ser feito com um simples ajuste de software no Banco Central.
O governo diz que isso não está nos planos. Mas se olharmos para trás, essa é exatamente a mesma narrativa que ouvimos antes da CPMF entrar em vigor.
Seu Dinheiro, Seu Controle?
O Brasil está entrando em uma nova era financeira. O monitoramento de grandes transações e a implementação do DREX podem representar um avanço na transparência e na eficiência econômica, mas também criam um risco real de perda de liberdade financeira e tributação automatizada.
O que aconteceu com a CPMF deve servir de lição: o que começa como uma simples ferramenta de arrecadação pode se transformar em um peso permanente sobre o cidadão.
Se o governo tiver a tecnologia e a infraestrutura para tributar automaticamente, quanto tempo levará até que eles resolvam usá-la?