Ignorância Não é Argumento
O recente vídeo do "Cor do Dinheiro", do Camilo Lourenço, na rubrica "Pé de Meia" é um exemplo claro de como a desinformação e uma compreensão superficial continuam a prejudicar as discussões públicas sobre Bitcoin. Os convidados, Francisco Louro e Antonio Mello Campello, regurgitaram argumentos ultrapassados e falaciosos com uma confiança que faria Dunning e Kruger sentirem orgulho. Desde descartar Bitcoin como mera especulação até confundi-lo com moedas meme e actividades criminosas, as suas alegações destacam não apenas a ignorância, mas também a sua recusa em compreender objectivamente esta tecnologia revolucionária. Este artigo visa desmontar algumas das suas afirmações, expondo as suas perspectivas superficiais enquanto apresenta Bitcoin como a inovação transformadora que realmente é.
Nem vou comentar a historia da blockchain, ja escrevi sobre isso num outro artigo que podem encontrar aqui.
Bitcoin: É Apenas Especulação?
Antonio Mello Campello começa com o argumento ultrapassado de que Bitcoin é puramente especulativo, desprovido de "valor real". Este argumento é risível, considerando a adopção de Bitcoin por nações como El Salvador e empresas como a MicroStrategy. Se Bitcoin fosse apenas especulativo, por que entidades bilionárias e governos o integrariam nas suas estratégias financeiras?
A sua ignorância torna-se ainda mais evidente na incapacidade de compreender que todas as tecnologias revolucionárias enfrentam cepticismo inicial. A internet já foi vista como uma curiosidade de nicho que desapareceria como o fax, e aqui estamos, usando-a para espalhar opiniões mal informadas sobre Bitcoin. A incapacidade do convidado, e devo dizer do apresentador também, de reconhecer este paralelo revela a sua falta de perspectiva histórica e tecnológica.
O Valor de Bitcoin: O Mito do Valor Intrínsecos
“Bitcoin não tem valor intrínseco porque não gera dividendos ou retornos,” afirmam. Por esta lógica, o ouro, que também não gera dividendos, deve ser igualmente sem valor. A verdade é que o valor de Bitcoin reside nas suas propriedades: escassez, descentralização e segurança. Com um limite de fornecimento de 21 milhões e um registo inviolável, Bitcoin oferece um nível de transparência e fiabilidade incomparável a qualquer moeda fiduciária.
A afirmação também ignora o uso de Bitcoin como protecção contra a inflação e instabilidade económica. Ao contrário do euro, que o Banco Central Europeu inflacionou até à exaustão, Bitcoin oferece previsibilidade e independência face a políticas monetárias irresponsáveis. A compreensão superficial dos apresentadores demonstra a sua incapacidade de valorizar como as propriedades únicas de Bitcoin desafiam o status quo dominado pelas moedas fiduciárias.
Confundir Bitcoin com Memecoins
Equiparar o Bitcoin ao Dogecoin não é apenas ignorância; é absolutamente ridículo. Enquanto a Dogecoin prospera em memes e tweets de Musk, Bitcoin é um sistema monetário robusto construído com mais de uma década de descentralização, segurança e adopção global. Esta equivalência falsa mina qualquer credibilidade que os participantes do vídeo poderiam esperar manter.
Dogecoin carece da escassez, segurança e descentralização que tornam Bitcoin revolucionário. Comparar os dois é como comparar um carro de luxo a um carrinho de pedais infantil. Um é projectado para utilidade no mundo real; o outro é uma brincadeira passageira.
Volatilidade: Uma Característica, Não Um Problema
Outra crítica ultrapassada: a volatilidade de Bitcoin. Sim, o preço da bitcoin oscila, mas o mesmo aconteceu com as acções e mesmo o ouro nos seus primeiros dias. A volatilidade é uma fase natural de uma classe de activos emergente. Apesar disso, a bitcoin tem proporcionado retornos de longo prazo incomparáveis, recompensando aqueles que compreendem o seu potencial e permanecem pacientes.
A ironia é gritante: enquanto desconsideram Bitcoin pela sua volatilidade, falham em mencionar a lenta erosão de valor do euro ou os crashes periódicos dos mercados de acções. A volatilidade de Bitcoin é o preço da inovação, e, à medida que a adopção cresce, a estabilidade seguir-lhe-á. A incapacidade dos participantes de reconhecer esta dinâmica demonstra o seu pensamento de curto prazo e a falta de visão do panorama maior.
A Narrativa do Crime: Um Argumento Preguiçoso
Afirmar que Bitcoin é principalmente usado para actividades criminosas, ou teóricos da conspiração, é talvez o argumento mais preguiçoso de todos. Dados mostram consistentemente que transacções ilícitas representam menos de 1% do uso total de bitcoin. Enquanto isso, o dinheiro em espécie, cash, continua a ser a ferramenta preferida dos criminosos em todo o mundo. Devemos banir euros e dólares também?
Ironicamente, a transparência de Bitcoin torna-se uma péssima escolha para criminosos. Ferramentas de análise de blockchain tornaram-se inestimáveis para as autoridades, permitindo-lhes rastrear e capturar infractores. A incapacidade dos participantes de reconhecer este facto reflecte ignorância deliberada ou preguiça intelectual — ou talvez ambos.
Aplicações Práticas: Reduzindo a Desigualdade Financeira
“Bitcoin não tem casos de uso no mundo real,” dizem eles, ignorando os milhões que dependem dele para remessas, inclusão financeira e protecção contra hiperinflação. Iniciativas como a Praia Bitcoin no Brasil e o Bitcoin Ekasi na África do Sul, entre muitos outros, mostram como Bitcoin capacita comunidades ignoradas pelos sistemas financeiros tradicionais.
Ao permitir transacções baratas, rápidas e sem fronteiras, Bitcoin resolve problemas reais para pessoas reais. Descartar esses casos de uso como triviais não é apenas ignorância, mas também um exemplo gritante de privilégio financeiro. A incapacidade dos comentadores de reconhecer isso destaca o quão desconectados estão dos desafios enfrentados por aqueles fora de suas bolhas confortáveis.
Bitcoin vs. Activos Tradicionais: Uma Falsa Dicotomia
Os convidados argumentam que activos tradicionais, como acções e imobiliário, são investimentos superiores. Isto perde totalmente o ponto. Bitcoin não é (apenas?) um investimento; é um novo paradigma monetário. A sua portabilidade, divisibilidade e resistência à censura fazem dele um activo único, complementar aos investimentos tradicionais.
Imobiliário, ou terreno, podem ser confiscados, ou sujeitos a depreciação por factores ambientais ou sociais, e acções estão sujeitas a má gestão corporativa. Bitcoin, em contrapartida, é inalienável e opera independentemente de erros humanos. A incapacidade dos participantes de compreender esta diferença fundamental fala muito sobre a sua compreensão limitada do potencial transformador de Bitcoin.
O Limite de Fornecimento: Um "Gimmick" que Redefine o Dinheiro
Descrever o limite de fornecimento de 21 milhões de bitcoin como um "truque" é tanto desinformado quanto risível. A escassez sempre impulsionou o valor, como visto com o ouro, ou autocolantes do CR7. O fornecimento fixo de Bitcoin garante que ele não pode ser desvalorizado por políticas monetárias arbitrárias — uma característica, não uma falha.
Enquanto bancos centrais inundam economias com moeda fiduciária, erodindo o poder de compra das pessoas, a previsibilidade de Bitcoin oferece um porto seguro. A rejeição desta característica crítica pelos participantes revela uma falta de literacia económica e uma recusa em compreender os princípios fundamentais de Bitcoin.
Independência dos Bancos Centrais: A Proposta de Bitcoin
A noção de que a falta de apoio dos bancos centrais enfraquece Bitcoin é ridícula. Bancos centrais, com o seu histórico de políticas inflacionárias e crises financeiras, estão longe de serem exemplos de confiabilidade. A independência de Bitcoin protege-o de manipulações e garante a sua integridade. Essa é, alias, a grande proposta de valor de Bitcoin, inscrita no bloco genesis!
O argumento dos participantes reflecte um apego profundo a sistemas tradicionais que repetidamente falharam mas, do qual provavelmente beneficiam. A transparência, previsibilidade e descentralização de Bitcoin fazem deste activo uma alternativa superior, expondo as suas críticas como infundadas.
Conclusão: Ignorância Não é Argumento
O programa falha redondamente a premissa inicial com que o Camilo Lourenço abre o video. Reduzir a ignorância sobre Bitcoin. Os participantes do vídeo demonstraram uma falta chocante de compreensão sobre o assunto, repetindo argumentos ultrapassados e comparações falaciosas sem se darem ao trabalho de debater criticamente com o tema. O seu descarte de Bitcoin como especulativo, volátil e criminoso ignora evidências esmagadoras da sua utilidade, resiliência e potencial transformador.
Bitcoin representa uma mudança de paradigma em como pensamos sobre dinheiro, valor e inclusão financeira. É hora de os críticos irem além de argumentos superficiais e reaccionários e inteirarem-se com Bitcoin pelos seus méritos. Até lá, as suas críticas não passam de ecos de ignorância perante a inovação e alvo de chacota na comunidade.
Admiro bastante o Camilo Lourenço e o seu trabalho mas, desta vez, não esteve bem. Não só não houve contraditório como os convidados não entregaram aquilo que foi prometido no inicio do video.