Decidir para Maximizar o Valor
A escolha de algo implica abdicar de uma outra coisa. Quando investimos num determinado item vamos ter custos associados a essa decisão, no entanto a melhor forma de pensar nesses custos não será apenas dinheiro que possamos estar a investir mas em todas as possibilidades de que abdicamos para que possamos investir nesse item.
Suponhamos o seguinte cenário, um milionário decide dar uma esmola a um mendigo no valor de 10€, nesse mesmo dia um pobre passa no mesmo local onde está o mendigo e tendo apenas 10 € na carteira decide dar tudo ao mendigo. Apesar de em termos nominais se tratar da mesma quantia facilmente percebemos que o custo de oportunidade é significativamente diferente para o pobre e para o milionário. Esta aferição do custo de oportunidade superior coloca-nos interessantes questões no que diz respeito às razões particulares que levaram a pessoa a tomar a decisão. É lógico esperar que aquele que incorre no maior custo de oportunidade tem uma forte razão para tomar determinada decisão.
Importante também é esta ideia de que priorizamos umas coisas em detrimento de outras, o pobre pode ter ficado sem almoço ao dar todo o dinheiro que lhe restava, caso fosse assim ele de facto priorizou o donativo ao alimentar-se naquela circunstância.
Quando temos 100€ e temos de escolher entre dois produtos de igual preço (100€ cada um), em condições normais vamos escolher o mais importante para nós, isto é o mais valioso. Estas decisões acontecem partindo do pressuposto que o nosso objetivo é maximizar o valor (aqui entendido subjetivamente). Este tipo de decisões têm ainda um outro fator chave, determinante na priorização das decisões: o tempo.
Sendo um recurso escasso, o tempo cria um incentivo natural para a tomada de decisão dado que não podemos diferir a decisão eternamente. Pensando no exemplo concreto da escolha entre dos produtos referidos sabemos que os produtos não estarão sempre disponíveis, dado que a loja pode fechar e além disso a disponibilidade dos produtos poderá estar condicionada caso o produto seja arrebatado por outra pessoa. Este aspecto implica na nossa decisão na medida em que, quando conscientes disto, temos que tomar uma decisão.
Os estoicos e os religiosos repetem muitas vezes a expressão, memento mori, que significa: “lembra-te que morrerás”. Esta frase pungente serve como um despertador existencial, que nos recorda que este tempo acabará. O facto de lembrarmos da morte acorda-nos para aquilo que devemos priorizar, algo frequente ver-se por exemplo em pessoas que vivem situações traumáticas. Quando ultrapassadas as situações traumáticas, o resultado muitas vezes orienta as pessoas para uma redefinição das prioridades de vida, chamamos a isto o crescimento pós-traumático.
> “Nos ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos” Inscrição numa das portas da Igreja de São Francisco em Évora (Capela dos ossos)
Além deste aspeto o tempo influi também de numa outra questão, na preferência temporal. Este conceito diz respeito à nossa capacidade ou incapacidade em diferir a nossa gratificação, ou seja, se somos propensos à gratificação imediata dos nossos desejos ou se sacrificamos o presente com o intuito de obter uma recompensa maior no futuro. Este conceito ficou bem ilustrado no famoso teste marshmallow em que um grupo de crianças escolhidas por psicólogos tinham de escolher entre comer um marshmallow no imediato, ou esperar cinco minutos numa sala, tendo o marshmallow à sua frente sem o comer e assim receber o segundo.
No caso das crianças que esperaram podemos concluir uma preferência temporal baixa, ao passo que os que decidiram comer de imediato o marshmallow revelam uma elevada preferência temporal. Para concluir esta ideia de que a preferência temporal influencia na toma de decisão diga-se, as crianças com mais baixa preferência temporal revelam: melhores competências sociais, melhor resposta ao stress, menor probabilidade de obesidade; tendo sido isto concluído em estudos feitos à posteriori neste grupo.
Olhando para estes exemplos podemos ver o quão determinantes estas questões são na forma como tomamos as decisões e estruturamos a nossa hierarquia de valor para que possamos aferir de forma mais exata qual a estratégia que nos permite maximizar este valor. Daqui penso que podemos facilmente perceber que a preferência temporal baixa e o custo de oportunidade elevado são marcadores importantes de que nos podemos estar a mover mais em direção a algo que valorizamos e é importante para nós. Atrevo-me a dizer que se não arriscamos nada, talvez aquilo que temos entre mãos não seja assim tão valioso. A maximização do risco é também a maximização do benefício, contudo isto deve sempre ser temperado pela baixa preferência temporal porque a decisão deve sustentar-se ao teste do tempo, idealmente ser algo que resiste mais à erosão que o tempo impõe àquilo que foi objeto da nossa decisão.
Estes aspetos podem estar presentes quer nas decisões mais triviais como referia, decisões de consumo de bens mas também estão presentes noutras decisões como por exemplo: que tipo de relações procuramos com os outros, se mantemos ou não uma prática religiosa, se somos capazes ou não de negar as nossas vontades e impor a disciplina de procurar a excelência nas virtudes. Tudo isto será influenciado por estes aspetos e sendo conscientes destes mecanismos podemos então traçar um perfil mais ajustado à maximização do valor, não só no presente como no futuro.