Análise Programa Eleitoral (2025): Alternativa Democrática Nacional (ADN)

Análise Programa Eleitoral (2025): Alternativa Democrática Nacional (ADN)

O ADN (Alternativa Democrática Nacional) apresenta-se às eleições de 2025 com um programa orgulhosamente anti-sistema, culturalmente conservador e auto-descrito como “colocar os portugueses em primeiro lugar”. O seu programa soa a uma rutura radical com a política tradicional—misturando políticas familiares fortes, ceticismo em relação à moeda digital e retórica descentralizadora com prescrições morais rígidas e propostas de saneamento institucional.

Mas, sob a superfície, a visão de liberdade do partido é seletiva. O ADN defende a autonomia financeira, promove a transparência e propõe a redução da burocracia—mas também advoga a imposição estatal de normas culturais, o controlo do acesso a direitos e uma autoridade moral centralizada, levantando sérias dúvidas sobre a coerência na defesa da liberdade individual.


Os Pontos Positivos: Autonomia Financeira e Disciplina Institucional

Em algumas áreas, o ADN parece alinhar-se com princípios de liberdade económica e responsabilização institucional. Propõe:

  • Acabar com o financiamento público dos partidos políticos, regalias dos deputados e as portas giratórias entre o jornalismo e o governo.
  • Proteger o dinheiro físico e as criptomoedas descentralizadas da vigilância dos bancos centrais.
  • Limitar despesas extraordinárias do Estado, reduzir a frota automóvel pública e combater as comissões bancárias abusivas.

Estas propostas respondem a preocupações reais com o excesso de poder estatal, a governação opaca e o controlo tecnocrático. Um Estado transparente e frugal, aliado a um sistema monetário baseado na troca voluntária, reflete instintos liberais genuínos.


As Contradições: Liberdade, Mas Só Para Alguns

O ADN promove valores como a liberdade, a família e a dignidade—mas impõe limites rígidos à forma como os indivíduos definem e expressam esses mesmos valores.

  • O partido compromete-se a banir todo o conteúdo LGBT+ e a chamada “ideologia de género” do ensino público, a restringir os direitos de transição de género (especialmente para menores) e a revogar a legislação sobre aborto e eutanásia, mesmo quando baseada na escolha individual.
  • Propõe ainda retirar o apoio estatal a organizações que defendem direitos ligados ao género ou identidade.

Aqui, a linha entre proteger as crianças e impor uma moral única torna-se difusa. O ADN não propõe apenas retirar a influência do Estado na educação—substitui-a por um filtro cultural rígido, imposto de cima. Ao fazê-lo, põe em risco a liberdade de consciência e a autoridade parental para quem não se conforma com a norma dominante.


Prioridade pelo Passaporte: Soberania à Custa da Igualdade de Acesso

O ADN defende de forma consistente a preferência por cidadãos portugueses no acesso à habitação pública, serviços sociais e apoios estatais. Embora popular, esta abordagem assume implicitamente que os bens públicos são privilégios, e não direitos ligados à contribuição individual ou necessidade.

Isto abre espaço para discriminação institucionalizada, independentemente do estatuto legal ou da participação fiscal. Uma sociedade verdadeiramente liberal assenta na igualdade perante a lei, e não na distribuição seletiva de benefícios com base na identidade.


Ceticismo Climático e Científico: Rejeição Sem Alternativa

O partido classifica a política climática como “fraude climática” e opõe-se à geoengenharia, embora defenda a energia nuclear e “mercados livres de energia”. No entanto, rejeitar por completo a intervenção climática—sem apresentar alternativas baseadas na inovação descentralizada—deixa um vazio onde poderia florescer uma verdadeira gestão ambiental voluntária e local.

Soluções ambientais baseadas na liberdade incluem conservação liderada por proprietários, precificação de carbono pelos mercados e autonomia energética local—não a negação dos riscos ou do consenso científico.


Referendos e Democracia Direta: Ferramentas Poderosas, Resultados Arriscados

O ADN propõe alargar o uso de referendos, contratos eleitorais vinculativos e maior consulta pública. Estas reformas descentralizam o poder no papel—mas sem salvaguardas constitucionais, correm o risco de se tornarem instrumentos de imposição da vontade da maioria, onde minorias impopulares ficam vulneráveis ao controlo plebiscitário.

Liberdade não é apenas “mais democracia”. É também proteger os direitos individuais contra abusos—tanto do Estado como da maioria.


Conclusão: A Liberdade Não Pode Ser Seletiva

O ADN promete soberania, transparência e responsabilidade—e, em algumas áreas, entrega. Mas o seu modelo mais abrangente impõe uma visão moral estreita, centraliza a autoridade cultural e define direitos com base na identidade e na tradição, em vez da universalidade.

Uma sociedade livre não protege apenas a tua família, a tua fé ou a tua moeda—protege também o direito do teu vizinho de viver de forma diferente.

Para quem procura **verdadeira descentralização, associação voluntária e liberdade face à coerção—seja estatal ou cultural—é importante ponderar se a visão do ADN alarga a liberdade ou apenas transfere o controlo de Bruxelas para Lisboa, e de burocratas para vigilantes morais.


Photo by Claudio Schwarz on Unsplash

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