Privacidade, transparência e adoção
As eleições nos países democráticos, são uma espécie de um concurso de popularidade, vence o mais popular. Os governos, como querem vencer as próximas eleições, tendem a tomar medidas com execução curtas, que apresente resultados num curto espaço de tempo. Os governos deixaram de fazer reformas estruturais, que teriam bons resultados daqui a 10 a 20 anos, pensam apenas a curto prazo, com uma alta preferência temporal e que sejam populares. Os incentivos estão completamente desalinhados.
Isto coloca os partidos políticos, um pouco refém da opinião pública, dificilmente fazem algo contra a opinião da maioria dos cidadãos. Se executar medidas muito impopulares, existe uma forte probabilidade de perder a próxima eleição.
Assim os governos só aprovam propostas que tenham uma “aprovação” parcial da população, poderá não existir uma maioria, mas uma parte terá que compreender essa proposta.
Muitas das vezes, os governos querem aprovar uma nova lei, mas sabem de antemão que é extremamente impopular, por isso, primeiro manipulam a opinião pública para ganhar apoio popular, depois sim aprovam a lei. Ou seja, cria uma narrativa, um motivo que justifique aquele ato.
Vamos um exemplo prático, dificilmente um governo aprova um aumento de impostos com o único objetivo de aumentar o salário dos deputados, seria extremamente impopular.
Os governos acabam por manipular a população, criam uma narrativa, prometem que o aumento dos impostos é para ajudar os mais pobres. É algo popular, mas depois de aprovada, uma parte do dinheiro vai para os pobres, a outra parte vai para os bolsos dos deputados. Assim conseguiram realizar a ideia inicial com o apoio popular.
Em suma, os incentivos levam os governos a tomar medidas que tenham uma parte de apoio popular. Terá que existir sempre um motivo que justifique. É uma espécie de equilíbrio de Nash, tem que existir um equilíbrio entre a opinião do governo e a opinião da população. Se existir uma enorme divergência, as perdas são muito superiores aos benefícios para o governo.
Bitcoin
A grande herança/legado do Satoshi não foi a tecnologia (até tinha muitos bugs) mas sim a política económica e protocolo de consenso, as suas múltiplas teorias dos jogos coexistentes, é uma verdadeira obra prima.
Já foram realizados inúmeros melhoramentos no código (tecnologia), talvez daqui a 20 anos, pouco restará do código inicial, mas a sua política está inalterada e está completamente atual e possivelmente nunca será alterada.
O Satoshi ao criar um novo sistema monetário alternativo, sabia que mais cedo ou mais tarde, o bitcoin seria atacado pelos governos. Como aconteceu em todas as tentativas anteriores ao bitcoin.
Após este comentário de um anónimo:
Você não encontrará uma solução para problemas políticos na criptografia
Satoshi respondeu:
Sim, mas podemos vencer uma grande batalha na corrida armamentista e conquistar novos caminhos para a liberdade por alguns anos. Os governos são bons em cortar cabeças de redes gerenciadas centralmente, como a Napster, mas redes P2P puras, como Gnutella e Tor, parecem estar se mantendo funcionando.
Assim quanto mais tarde, melhor, permitindo o desenvolvimento tecnológico e um maior crescimento da adoção. A adoção é o melhor escudo, um escudo humano sem armas mas com o poder no voto, de poder eleger ou derrubar o governo.
A diferença de poderes entre o estado e o Bitcoin é desproporcional, num confronto direto, o pequeno nunca vencerá essa guerra. O pequeno nunca conseguirá explodir o grande, mas poderá implodi-lo, ou seja, entrar dentro do sistema como um cavalo de Troia e depois implodi-lo.
A minha convicção, é que Satoshi não cria destruir o sistema Fiat, mas sim construir uma alternativa, com diversos casos de uso.
Bitcoin seria conveniente para pessoas que não têm cartão de crédito ou não querem usar os cartões que possuem, não querem que o cônjuge o veja na conta ou não confiam em fornecer seu número para “caras da por”, ou com medo de cobrança recorrente.
Se pensarmos bem, até é importante manter o sistema FIAT, nem que seja como uma referência (a não seguir). Nós, só sabemos que a refeição A é deliciosa, porque já provamos a refeição B (que é uma porcaria). Se perdermos a referência da B, deixamos de saber que A é deliciosa.
É claro que em última instância, se o sistema alternativo tiver uma adoção de 100%, acabaria por destruir o sistema FIAT. O essencial é existir liberdade monetária, o poder de escolha fica em exclusivo no indivíduo.
Como é lógico, o estado não quer perder o monopólio da moeda. Como expliquei na introdução, os governos democráticos necessitam de uma motivo plausível ou uma razão moral para proibir, parte da população tem que compreender. Se não compreender, vão questionar o porquê, isto pode gerar um efeito oposto, o chamado efeito Barbra Streisand. Ao proibir sem motivo aparente pode gerar um movimento de adoção em massa, porque somos humanos e o fruto proibido é sempre o mais apetecível.
O Bitcoin ao ser construído num limbo, repleto de teoria dos jogos, sem violar qualquer lei vigente, sem nunca bater de frente com os governos, é uma revolução pacífica e silenciosa. Como nunca pisou linhas vermelhas, coube aos governos encontrar um motivo para proibir, durante toda a história, os políticos bem tentaram mas nunca encontraram o motivo plausível.
Bitcoin vive nesse limbo, não viola qualquer lei, mas ao mesmo tempo, não compactua com os governos, apenas está a criar um sistema monetário paralelo. É como os bons advogados trabalham, aproveitam os buracos das leis ou contornam as leis sem nunca as violar.
Para que a adopção seja rápida, é importante tem de estar dentro da lei.
Quando os governos/procuradores não encontram provas diretas para condenar, adoram encontrar motivos circunstanciais, subterfúgios. Um bom exemplo foi Al Capone, apenas conseguiram encarcerar por sonegação de impostos, ele nunca foi condenado por crimes mais graves, de sangue.
Um bom exemplo foi o algoritmo de assinaturas Schnorr, que só foi adicionado ao Bitcoin na atualização Taproot, não foi adicionado anteriormente devido as pendentes, que estaria em vigor à data do bloco gênesis. Satoshi era rigoroso e calculista.
Em Dezembro de 2010, Satoshi demonstrou que não queria um conflito com os governos, ainda era muito cedo. Após o bloqueio das contas bancárias dos Wikileaks, Assange queria receber doações em bitcoin, mas Satoshi tentou dissuadi-lo, ainda era cedo, a descentralização ainda não era suficientemente robusta.
Não, não faça isso. O Bitcoin é uma pequena comunidade beta em sua infância. Você não arrecadaria mais do que alguns trocados, e a pressão que você traria provavelmente nos destruiria (a rede do Bitcoin) nesta fase.
O Wikileaks chutou o ninho de vespas e o enxame está vindo em nossa direção.»
Após estes acontecimentos, Satoshi afastou-se.
Transparência
Muitos apoiantes do Monero, criticam o Bitcoin devido à falta de privacidade, mas Satoshi optou por uma transparência total e por um pseudo anonimato.
O problema fundamental com a moeda convencional é toda a confiança necessária para fazê-la funcionar. Precisamos confiar que o banco central não vai desvalorizar a moeda, mas a história das moedas fiduciárias está repleta de violações dessa confiança.
Deve-se confiar nos bancos para reter o nosso dinheiro e transferi-lo eletronicamente, mas eles emprestam-no em ondas de bolhas de crédito com apenas uma fração de reserva. Temos que confiar-lhes a nossa privacidade, confiar que não permitirão que ladrões de identidade drenem as nossas contas. – Satoshi
Satoshi descreve magistralmente os problemas do sistema financeiro, o ter que confiar, a falta de transparência e a reserva fracionária. Bitcoin é exatamente a resposta a isso, um sistema totalmente transparente, onde tudo é visível, tudo é auditável e sem a necessidade de confiar em terceiros.
Assim, garantiu a segurança e a integridade do sistema, promoveu a confiança e incentivou a verificação e não confiar em informações de terceiros. A qualquer momento, qualquer pessoa consegue verificar todas as transações e saber o supply total do bitcoin, isto é incrível.
Don’t Trust, Verify!
É claro que essa total transparência gera “efeitos secundários”, uma menor privacidade. Temos que saber viver com isso, é um mal menor, para garantir um bem muito superior, uma moeda justa.
A transparência é a prioridade, privacidade fica parcialmente garantida através do pseudo anonimato, tem algumas limitações, mas bem utilizado, pode garantir uma certa privacidade, basta fazer uma boa gestão de chaves e uma utilização de endereços descartáveis.
Como uma camada de segurança adicional, um novo par de chaves deve ser usado para cada transação para evitar que elas sejam vinculadas a um proprietário comum. – Satoshi
O problema do pseudo anonimato é agravado devido ao mau comportamento das pessoas, que utilizam exchanges e vinculam os endereços à identidade real.
A possibilidade de ser anônimo ou pseudônimo depende de você não revelar nenhuma informação de identificação sobre você em relação aos endereços bitcoin que você usa. Se você publicar seu endereço bitcoin na web, estará associando esse endereço e quaisquer transações com o nome com o qual você postou. Se você postou com um identificador que não associou à sua identidade real, ainda é um pseudônimo. – Satoshi
Não é possível querer os dois mundos em simultâneo, quem quer privacidade não poderá utilizar exchanges, apenas p2p.
E Satoshi tinha razão, atraíram as “vespas”, em 2011, o Gavin Andresen foi convocado pela CIA, o serviço de inteligência dos Estados Unidos, para falar sobre o Bitcoin.
Comunicado de Gavin Andresen:
Aceitei o convite para falar porque o fato de ter sido convidado significa que o Bitcoin já está no radar deles, e acho que pode ser uma boa chance de falar sobre por que acho que o Bitcoin tornará o mundo um lugar melhor.
Acho que os objetivos deste projeto são criar uma moeda melhor, criar um sistema de pagamento internacional mais competitivo e eficiente e dar às pessoas um controle mais direto sobre suas finanças.
E não acho que nenhum desses objetivos seja incompatível com os objetivos do governo.
Estou apenas um pouco preocupado que falar sobre bitcoin na CIA aumente as chances de que eles tentem fazer algo que não queremos que eles façam.
Acho que aceitar o convite deles e ser aberto sobre exatamente o que é o bitcoin tornará menos provável que eles o vejam como uma ameaça.
Como no Bitcoin não existe uma privacidade total e as transações são rastreáveis, não representava uma ameaça para a segurança nacional dos estados. Assim não existe um motivo plausível para o governo o proibirem.
A total privacidade é claramente uma linha vermelha para os governos.
A generalidade das pessoas tem dificuldade em compreender o verdadeiro valor da privacidade, acreditam na ideia, “quem não tem nada a esconder, não tem nada a temer”. Na época, se o governo tivesse a intenção de atacar o Bitcoin, possivelmente teriam conseguido proibi-lo e as pessoas nem teriam contestado.
Foi exatamente o que aconteceu agora com a Monero, a privacidade/anonimato foi utilizada como o motivo, está a ser ilegalizada em vários países, sem gerar alguma consternação na população. Infelizmente as pessoas não dão valor à privacidade, são demasiado ingénuas, acreditam que isto dará mais segurança.
Qualquer sociedade que renuncie um pouco da sua liberdade para ter um pouco mais de segurança, não merece nem uma, nem outra, e acabará por perder ambas. – Benjamin Franklin
Eu acredito que se o bitcoin tivesse o mesmo grau de privacidade da Monero, hoje em dia, ou já não existia ou seria apenas um micro nicho, nunca teria atingido a atual dimensão.
É um equilíbrio, se houvesse um maior grau de privacidade a adoção seria baixa, se privacidade fosse nula (FIAT) a adoção seria elevadíssima. Satoshi optou por um pouco de equilíbrio, com o pseudo anonimato.
O bitcoin sacrificou um pouco a privacidade, em prol de um bem muito superior, é o instituto de sobrevivência. Esse sacrifício era a única via, uma maior privacidade poderá ser garantida com outras soluções ou em segundas camadas.
A camada base deve manter este nível de privacidade, como padrão, quem quiser uma maior privacidade terá que optar por sistemas alternativos, como mixers ou outras camadas.
A tecnologia deve ser imparcial e genérica, é uma situação similar das facas, apenas uma tecnologia agnóstica. A responsabilidade não está na tecnologia, mas sim de quem a utiliza. Quem utiliza uma faca para cometer um crime, é quem deve ser condenado. Deve ser condenado quem faz mau uso da tecnologia e nunca deve ser condenado quem construiu a tecnologia e muito menos proibir a tecnologia.
Num futuro longínquo, a camada base será um local de Settlements, apenas utilizado por liquidity provider(LP), bancos ou pessoas com bastante valor. A generalidade das pessoas utilizarão apenas camadas secundárias, onde existirá um maior grau de privacidade. Vão existir centenas de L2 ou sidechains que estarão ligadas à L1, onde a liquidez está colaterizada, por isso é essencial uma transparência total, para ser facilmente auditável a quantidade de fundos colaterizados, para garantir a segurança.
Neste futuro, a maioria das transações na L1 serão de instituições ou estados, eu acredito que vão querer implementar maior privacidade, nesse momento, seremos nós a não querer. A verdade está na transparência.
Custódia
Como os políticos não fizeram nada durante anos, o Bitcoin cresceu na adoção, mas sobretudo na descentralização. A descentralização atingiu uma tal dimensão, que hoje em dia, é impossível proibir o Bitcoin e os políticos sabem disso. Como já não é possível proibir tecnicamente, agora a única via, é tornar ilegal a sua utilização.
Os políticos durante anos tentaram fabricar motivos plausíveis, manipularam a opinião pública com FUDs e informações falsas, mas nunca conseguiram um forte apoio popular.
O Bitcoin continuou a crescer, agora os governos ocidentais mudaram ligeiramente de estratégia, em vez de proibir, estão a direcionar/condicionar a sua utilização, ou seja, estão a aceitar o Bitcoin como um ativo, como o ouro, como reserva de valor, sobretudo em locais centralizados, como ETFs e em exchanges, bancos, tudo altamente regulamentado. Tudo por baixo da asa dos governos, onde os políticos podem controlar, confiscar o bitcoin e identificar facilmente.
Mas ao mesmo tempo vão dificultar a auto-custódia e a utilização do Bitcoin como meio de troca. O grande medo dos governos é o Bitcoin ser utilizado como uma moeda, eles não querem concorrência às suas moedas FIAT, estão apenas a tolerar como reserva de valor.
Agora o grande objetivo é ilegalizar/limitar a auto-custódia, mas aqui existe um enorme medo por parte dos governos ocidentais, ao fazê-lo, podem dar uma percepção à sua população que é um ataque às liberdades individuais, os governos não querem dar imagem de ser autoritários. Poderia também gerar o efeito Barbra Streisand, gerando uma adoção em massa, o tiro poderia sair pela culatra. Mesmo sem proibir, os governos vão utilizar os impostos para limitar a adoção e a utilização.
Como o euro e o dólar tem uma volatilidade muito inferior ao Bitcoin, é natural que a utilização do Bitcoin como moeda seja baixa na União Europeia e nos EUA. Como o benefício é baixo, mas o risco é muito elevado, possivelmente os governos vão deixar andar, só vão proibir a auto-custódia em último caso, em desespero.
Será pouca a utilização como moeda na Europa e nos EUA, mas a adoção vai ser grande como reserva de valor, vai permitir reduzir a volatilidade e ainda vai dar mais resiliência ao bitcoin. O aumento da adoção não será apenas pelo cidadão comum, mas também por políticos, empresários e investidores, criando um forte lobby pró-bitcoin. Este conflito de interesses dos políticos, vai dificultar a aprovação de medidas mais restritivas, porque haverá sempre algum bitcoiner dentro dos partidos políticos, haverá oposição interna.
A entrada da BlackRock foi um divisor de água, podemos não gostar, mas a percepção geral mudou completamente, existe antes e depois do apoio BlackRock. Os ETFs que estavam há 10 anos num limbo, foram aprovados em meses, a narrativa negativa (que o bitcoin consumia muita energia e só era utilizado por criminosos) desvaneceu.
Mas nem tudo poderá ser um mar de rosas, existe um dúvida no ar, de que lado está a BlackRock, sobre a auto-custódia, fará lobby para que lado?
Em teoria, a proibição da auto-custódia faria crescer o número de clientes, mas provocaria um efeito secundário, como a soberania e a descentralização é fulcral, ao atacar esses pontos teria um forte impacto no preço, os clientes da BlackRock perderiam dinheiro e poderiam desistiriam dos EFTs. O que no início poderia resultar num aumento de clientes, poderia resultar numa perda de clientes, é a teoria dos jogos, o Dilema do prisioneiro. O melhor para ambos, é a coexistência dos serviços custodiais e não-custodiais, porque ambos geram procura, ambos serão beneficiados. Só o tempo dirá, de que lado está a BlackRock.
Hoje em dia é visível a forte adoção dos EFTs, tanto por empresas/instituições, como por particulares, alguns milionários. Os ETFs são um produto simples, muito fácil de utilizar, sem necessidade de fazer a custódia, mas existe sempre o risco de confisco. As empresas e fundos de pensões, não terão outra alternativa, obrigatoriamente terão que estar sempre em serviço custodiais, mas no caso dos investidores particulares, estes vão pensar duas vezes.
Numa fase inicial vão utilizar os ETFs, depois com tempo vão estudar e compreender como funciona o bitcoin. Possivelmente alguns vão mudar para auto-custódia ou para outros serviços mais resilientes ao confisco.
Os particulares milionários como tem empresas ou outros ativos, como no mercado de capitais ou então imobiliário, já estão demasiado expostos aos poder do estado e há boa bondade dos políticos. Os milionários também têm medo dos governos, por isso, já colocam parte da sua riqueza em jurisdições mais amigáveis (offshores). Nas offshores só uma pequena parte do capital tem origem criminosa, a grande maioria do dinheiro tem uma origem lícita, as poupanças estão ali como uma proteção, uma segurança extra, porque também tem uma certa desconfiança do poder político.
No futuro, alguns desses milhões de dólares que estão depositados na Suíça, Dubai, Caimão, Curaçau e entre outros, vão ser transformados em bitcoin, é inevitável. Alguns vão optar por serviço custodial nessas mesmas jurisdições, mas certamente alguns vão optar pela auto-custódia.
As offshores dão segurança ao cidadão, mas apenas estava acessível aos mais ricos, mas agora existe o Bitcoin, que dá ainda mais soberania e está acessível para toda a gente, é universal.
Até para o lado dos governos, é mais fácil rastrear as transações de Bitcoin do que as transações em certas offshores.
Meio de troca
São nos países onde as moedas perdem mais poder de compra, é onde existe uma maior adoção do Bitcoin. Assim, a forte adoção como reserva de valor, vai permitir reduzir bastante a volatilidade do Bitcoin, provocando uma forte adoção em países com moedas com inflação mais elevadas, sobretudo na América central e latina, na África e na Ásia.
Hoje em dia, este “mercado”, das compras do dia-a-dia, foi dominado por stablecoins. Mas as stablecoins são uma CBDCs disfarçada, o FED tem um poder absoluto sobre elas, congela fundos a qualquer momento, sem qualquer limitação. Os EUA já utilizam as stablecoins como uma política expansionista, esse processo vai acelerar nos próximos anos, vão imprimir biliões/triliões de dólares para financiar o governo e vão distribuir essa inflação para o resto do mundo em forma de stablecoins.
O forte crescimento da adoção das stablecoins de dólares, está a colocar em causa as políticas monetárias internas nos países subdesenvolvidos. Atualmente os políticos utilizam a moeda como uma arma contra o seu próprio povo, este refugia-se no dólar, como uma proteção contra as altas inflações e contra a tirania dos seus políticos.
Não é o Bitcoin a principal ameaça às moedas FIAT, mas sim as stablecoins de dólares.
Nestas economias sempre houve dólares, existem mercados paralelos de dólares, mas este mercado tinha uma limitação física que impedia o seu crescimento, é difícil entrar novas notas/cédulas de dólares em circulação. O digital resolveu esse problema, agora é fácil entrar “novos” dólares nessas economias, os governos mais austeros, com políticas de controle de capitais mais agressivas, não conseguem evitar a entrada.
A utilização das stablecoins está a crescer rapidamente, mas em algum momento, existirá um ponto de inflexão, os governos não vão querer perder o poder da sua moeda FIAT, vão retaliar. Ao contrário do papel-moeda, as stablecoins são fáceis de confiscar/congelar fundos. Os governos vão retaliar e vão começar a obrigar a Tether (e os outros) a congelar fundos arbitrariamente, será congelamentos em massa.
Haverá muitos conflitos diplomáticos, a Tether vai compactuar com grande parte dos governos, mas será que compactuará com o governo russo no congelamento de fundos?
Só nesse preciso momento, as pessoas vão compreender o verdadeiro valor da descentralização do Bitcoin. Será um catalisador no aceleramento da adoção do Bitcoin, como moeda, nessas economias.
Além disso, a política expansionista dos EUA não é imparável, nem inesgotável, um dia terá que afrouxar, quando colocarem o KYC como obrigatório, milhões de pessoas vão afastar-se das stablecoins.
Mais tarde, os fluxos migratórios desses países subdesenvolvidos, serão uma forte contribuinte para eclodir os mercados p2p na Europa e para os EUA, vai gerar uma enorme utilização do Bitcoin como moeda.
A “reserva de valor” vai alimentar o “meio de troca“ e por sua vez este vai alimentar ainda mais o “reserva de valor”. Se isto acontecer, os governos ocidentais poderão desesperar e vão tentar desesperadamente ilegalizar o bitcoin, especialmente os governos europeus, mas talvez seja tarde demais. O Bitcoin já estará disseminado em todo o lado, como um vírus.
Independência
Como disse em cima, quanto maior for a adoção, maior é o escudo humano. Apesar de existir milhões de bitcoiners, ainda somos uma gota num oceano, neste mundo com biliões de habitantes.
Bitcoin é um sistema financeiro alternativo, mas ainda está altamente dependente do sistema FIAT, para crescer. Se os governos conseguirem cortar todas as rampas de entrada FIAT, a adoção ficaria muito mais lenta. Seria como em 2012, quando não existiam exchanges, a única maneira de comprar era através de p2p, os scams online eram imensos, não existia confiança, as pessoas tinham medo de comprar, não arriscavam. As exchanges facilitam imenso, foram fundamentais para acelerar o crescimento da adoção.
Bitcoin necessita reduzir esta dependência e tornar-se totalmente independente, para isso é essencial uma adoção massiva. As economias circular vão desempenhar um papel fundamental, se em cada terra/cidade existirem várias pessoas disponíveis para p2p, já não será necessário ir online para trocar FIAT por Bitcoin, aí sim alcançarmos a independência.
O Bitcoin tem que ser acessível, fácil, rápido e sem a necessidade de uma KYC.
Impacto Global e Social
Quanto maior for o impacto global, mais resiliente será o bitcoin, é a teoria de jogos na sua plenitude.
Se houve um forte crescimento na adoção do Bitcoin como moeda em países em desenvolvimento, utilizada por grupos sociais perseguidos, pelos mais pobres, pelos mais necessitados e cidadãos em países sob regimes autoritários, todos eles serão um escudo humano e social no ocidente. Ou seja, haverá pressão social sobre os políticos ocidentais, porque qualquer coisa que prejudique o Bitcoin teriam um impacto tremendo no preço, consequentemente, vai destruir as poupanças dos mais necessitados em todo o mundo. O impacto seria global.
Será que o governo terá coragem de prejudicar as populações mais necessitadas em todo o mundo?
Conclusão
Quanto maior a adoção, maior será o escudo humano.
Tudo isto não passa de uma opinião pessoal, a minha interpretação. Não confie em nada aqui escrito, verifique!