Análise Programa Eleitoral (2025): Pessoas–Animais–Natureza (PAN)

Análise Programa Eleitoral (2025): Pessoas–Animais–Natureza (PAN)

O partido Pessoas–Animais–Natureza (PAN) apresenta uma plataforma serena e voltada para o futuro nas legislativas de 2025—uma que combina consciência ecológica, bem-estar animal e reformas sociais progressistas com um surpreendente toque de pragmatismo económico. Da saúde mental ao salário mínimo, dos direitos dos animais à redução de emissões, o PAN aborda quase todas as áreas da política pública com um impulso moral unificador: proteger os vulneráveis—sejam humanos ou não.

Mas apesar da sua compaixão, o programa do PAN levanta uma questão central: pode uma sociedade expandir a liberdade confiando fortemente numa moralidade imposta pelo Estado e numa engenharia comportamental? Ou, mais directamente: quando a política pretende “fazer o bem”, quem decide o que isso significa—e até onde deve o Estado ir para o impor?


Acção Climática: Urgência de Cima para Baixo ou Autonomia Local?

A missão central do PAN é a acção climática. O partido opõe-se à exploração de combustíveis fósseis, defende uma transição total para as energias renováveis e apoia grandes investimentos no transporte público e na conservação da natureza.

Estes objectivos alinham-se com a resiliência a longo prazo—mas os métodos são quase exclusivamente liderados pelo Estado. Há pouca menção a instrumentos de mercado como o preço do carbono, a conservação baseada na propriedade privada ou a autonomia energética local. O plano parte do princípio de que o caminho é o controlo tecnocrático e o investimento centralizado.

Contudo, a liberdade prospera onde as soluções são descentralizadas, impulsionadas pela inovação privada, pela cooperação voluntária e pela experimentação de base. Ao manter o Estado no centro da reforma ecológica, o PAN corre o risco de reproduzir as mesmas estruturas de dependência que pretende ultrapassar.


Bem-Estar Animal: Uma Visão Ética com Ferramentas Coercivas

O PAN merece reconhecimento por ter trazido a protecção animal para o debate político nacional. O seu apelo à proibição da agropecuária industrial, à reforma legislativa e à integração da ética animal no ordenamento jurídico reflecte uma posição moral sincera.

Mas, novamente, o método escolhido é a proibição legal, e não a persuasão ou a evolução do mercado. O salto entre a preocupação ética e os mandatos de estilo de vida impostos—sobretudo por reguladores não eleitos—pode rapidamente resvalar para a coerção em vez da consciência. Uma sociedade livre deve acomodar visões diversas sobre alimentação, agricultura e ética, permitindo que os sinais do mercado e o discurso civil orientem os comportamentos, em vez de impor proibições generalizadas.


Política Social Progressista: Compaixão com Centralismo

O apoio do PAN à eutanásia, à reforma da saúde mental, às leis anti-discriminação e ao apoio à população idosa reflecte uma preocupação genuína com a inclusão social. O foco na saúde mental e no combate à solidão é particularmente humano.

No entanto, quase todas estas reformas são enquadradas como expansão de programas e mandatos estatais, em vez de iniciativas comunitárias, redes de entreajuda ou modelos de cuidado centrados na família. Há pouca ênfase em soluções voluntárias, parcerias com o sector privado ou iniciativas de base—apenas um apelo repetido, e repetitivo, a mais programas públicos, mais intervenção estatal e mais regulamentação.


Pragmatismo Económico: Uma Viragem Bem-Vinda (mas Incompleta)

Um dos elementos mais surpreendentes do PAN é a sua defesa da redução do IRC para 17% até 2028, da isenção de IVA em bens essenciais, e de benefícios fiscais para jovens trabalhadores. São raros sinais de liberalização económica—e revelam que o partido está atento às dificuldades causadas pela inflação e estagnação salarial.

Ainda assim, o PAN continua a assumir que o Estado deve ajustar comportamentos através de alavancas fiscais: incentivos, isenções, apoios dirigidos. A verdadeira liberdade económica implica simplificação fiscal, redução das distorções e confiança na ordem espontânea—não apenas redistribuir com um selo verde.


Independência Política: Aberto a Todos, Ligado a Todos?

O PAN afirma ser politicamente independente, colaborando com a esquerda e o centro consoante a convergência com a sua missão. Esta flexibilidade é louvável. No entanto, independência de alianças não equivale a independência de método. Ao longo do programa, o fio condutor é uma aposta na expansão institucional—e não na iniciativa pessoal.

Para um partido que defende a diversidade, há pouca margem para diversidade ideológica na forma como as pessoas vivem, trabalham e se relacionam com o mundo natural.


Conclusão: Ética sem Autoritarismo Seria Mais Forte

O PAN traz temas importantes para a mesa. A sua bússola ecológica e ética enriquece a democracia portuguesa. Mas a liberdade não pode ser usada apenas como instrumento para “boas causas”—deve ser um travão ao excesso de confiança do poder político motivado por causas.

Uma sociedade que cuida dos animais, do planeta e dos vulneráveis deve também confiar nos seus cidadãos para escolher como viver esses valores—em vez de os impor de cima.

No final, boas intenções não garantem liberdade. E a liberdade, quando bem defendida, alcança muitas vezes mais do que qualquer regulação poderia.


Photo by Claudio Schwarz on Unsplash

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