Homem de Aço (2013)

Homem de Aço (2013)

O Homem de Aço de Zack Snyder é o resultado de uma longa cobrança dos fans da DC Comics, brigas judiciais e da necessidade de uma reformulação do maior Super-Herói de todos os tempos.

É inegável o sucesso dos quatro filmes estrelados por Christopher Reeve. Superman (1978), de Richard Donner se estabeleceu como padrão para todos os outros filmes de Super-Heróis que vieram posteriormente. Tanto a nível de História quanto a nível de Efeitos Especiais (Vencedor do Oscar por efeitos visuais). Sem contar o marco que Reeve deixou sendo o rosto do Superman para muitos até hoje! Talvez seja por isso que a Warner Bros. Entertainement teve muita dificuldade para continuar lançando filmes do Superman depois do acidente com Reeve em 1995. Por mais que Superman IV - Em Busca da Paz (1987) seja um longa fechado que não deixa pontas soltas para continuações, dizer em voz alta que esse era o último filme do Superman nas telonas soava tenso demais nos ouvidos dos fans mais ferrenhos do Azulão. Até que em meados de 2005 surgiu rumores de que a Warner estava planejando lançar um novo filme do Superman. Surgiram sentimentos de euforia por uns e desconfiança por outros. Um filme ruim do Superman desapontaria muita gente. Até que Superman O Retorno, de Bryan Singer, estreou em 2006 e dividiu opiniões, como esperado. Os pontos positivos foram o elenco privilegiado e o Superman de Christopher Reeve homenageado em sua última ''caracterização''. Os pontos negativos giravam em torno da história. Superman indo verificar pessoalmente se Krypton realmente explodiu? Lex Luthor ainda tinha essa mania de monopolizar territórios? Lois casada? Filho do Superman? Nada disso fazia sentido. Muitos reclamaram na época que o filme era arrastado demais e que depois da cena do avião era inevitável não cair no sono, pois nada demais acontecia.

A Warner ouviu os fans, fez até pesquisa de mercado em lojas de quadrinhos nos EUA e mais uma vez se mostrava disposta a apostar em mais um longa do Homem do Amanhã. Era a genesi da construção de um Superman totalmente diferente de todos os seus antecessores. A essa altura, eu particularmente já esperava um Superman mais robusto já que não passou despercebido a magreza do Brandon Routh naquele colan de enchimento. Como também sonhava em ver na tela do Cinema uma grande luta entre o Super-Homem e um Super-Vilão, algo que não acontecia desde Superman II (1980). A Warner teve que adiar o lançamento desse filme devido a dois fatores:

  1. A família dos criados do personagem processou a Warner Bros. Pictures exigindo os direitos pecuniários (royalties adicionais) de todos os filmes anteriores alegando que a Produtora não estava pagando os valores corretos.

  2. Depois do fracasso tanto em crítica quanto em bilheteria de Lanterna Verde (2011) a Warner resolveu lançar um reboot da franquia do Superman e ao mesmo tempo estabelecer a base da DC para um Universo de filmes compartilhados no Cinema. Como a decisão judicial da Corte dos Estados Unidos de 2009 favorecia as famílias dos criadores do Superman, a Warner não queria levar prejuízo (de novo, sendo que já enfrentava ações judiciais por deixar de pagar os herdeiros legais dos criados de personagens no passado) e finalmente lançou O Homem de Aço no verão americano de 2013.

A premissa do longa escrito por David S. Goyer baseado em uma história que ele criou com Christopher Nolan é apresentar como seria o mundo se o Superman realmente existisse. Um filme mais realista, com um Superman mais humano e menos idealizado. Uma mais autoral do "visionário" diretor Zack Snyder, com um elenco primoroso e um Enredo ousado. Como trata-se de um Reboot vemos novamente a história de Krypton sendo narrada, dessa vez com bem mais detalhes e controvérsias inesperadas. Jor-El é o único cientista do Planeta Krypton que constatou que o núcleo do Planeta estava se desintegrando. Ele mesmo tinha avisado que extrair recursos de lá era suicídio, porém o Conselho da Ciência não deu ouvidos e extraiu os recursos mesmo assim, porque as reservas de energia se esgotaram. Temos aí a primeira grande questão dessa nova trama. Krypton tem toda uma mitologia muito bem explorada. Uma civilização super avançada, mas com recursos escassos. Os Kryptorianos, anos atrás, buscavam recursos em outros planetas. Eram exploradores. Talvez eles já sabiam que o Planeta estava fadado a morrer. O Conselho da Ciência não estava disposto a evacuar o planeta inteiro mas Jor-EL já sabia que era tarde demais e precisava do Códex (receptáculo onde o material genético de toda a raça Kryptoniana está armazenado) para que os Kryptonianos não fossem apagados da história. É justamente a má gestão dos Legisladores do Conselho que levaram o Líder Militar de Kandor, General Zod a dar um golpe e assumir o Comando do Conselho. Para Zod, anos de más decisões do Conselho levaram Krypton a ruína. A sobrevivência do seu Povo deveria prevalecer a qualquer custo. Jor-EL, por outro lado, acredita que a violência não é o caminho e matar os Legisladores para liderar sozinho não levaria a nada. A discordância entre Zod e Jor-EL quanto ao modo de restauração da civilização Kryptoniana levaram os dois a esquecerem a amizade de anos e tomarem atitudes desesperadas. Jor-EL resolve roubar o Códex e mescla-lo às células de seu próprio filho. Kal-EL é o primeiro filho nascido naturalmente em séculos. Foi lançado por uma nave espacial ultra tecnológica ao Planeta Terra que é nutrido por uma estrela jovem, o Sol Amarelo (isso não é mencionado no filme mas sabemos que Rao, o Sol Vermelho de Krypton também estava morrendo). Jor-EL é morto ao mandar o Códex para fora de Krypton, Zod é julgado e condenado a trezentos ciclos de recondicionamento somático (600 anos de prisão na Zona Fantasma). Lara, mãe da Kal-El e recém viúva, morre com a esperança de que seu filho crie um mundo melhor para os Kryptonianos. Enquanto Krypton é destruído o recém-nascido Kal-El percorre galáxias do espaço sideral.

Kal-EL chega ao destino enquanto Zod sonha em um dia encontrar o Códex que está na Terra, para reconstruir seu Povo!

Já adulto, Clark Kent lembra de sua infância incomum, enquanto usa uma identidade secreta de pescador inexperiente. Como foi difícil responder quem colonizou o Kansas enquanto enxergava o sistema respiratório, circular, nervoso e muscular de sua professora, ouvia sussurros, batimentos cardíacos e ponteiros do relógio em alto volume, sem ter a mínima ideia do estava acontecendo. Quando um menino que não é da Terra está perdido em meio a tantos super-poderes aparecendo, somente sua mãe Martha pode ajuda-lo a entender as mudanças que ele está sofrendo.

Clark Kent adolescente via seus colegas de classe se afogando e não pensava duas vezes em salva-los, mesmo se expondo como alguém incomum. Eis o dilema (desenvolvido ad infinitum em Smallville), ele terá que responder que tipo de homem se tornará no futuro, um herói messiânico ou um Tirano?

O Jonathan Kent de Kevin Costner é tão determinado a manter a identidade de Clark em segredo, que está disposto a dar sua própria vida para que seu filho adolescente não seja levado para uma base secreta americana para ser estudado. Para ele, o mundo não estava preparado para o Superman, e uma precoce revelação de um alien ao mundo, traria consequências. E essas consequências terão um peso muito grande na vida das pessoas. Nem todo mundo vai aceitar isso, nem todo mundo vai entender isso. Nem todo mundo irá recebê-lo como um salvador.

A Martha Kent de Diana Lane é uma mãe super protetora que tem medo que os alienígenas levem seu filho (tudo indica que os cidadãos do Kansas são fazendeiros republicanos que não confiam no Governo nem um pouco) mas por outro lado, se alegra ao saber que seu filho está amadurecendo e encontrando seu lugar no mundo, mesmo que sua família natal seja de uma galáxia distante.

A Lois Lane de Amy Adams é uma repórter determinada a descobrir a verdade sobre o misterioso Clark, que é capaz de feitos impossíveis a um homem comum. A Lois Lane dos filmes do Dooner sempre se arriscava para escrever as melhores matérias, o mesmo se repete com a Lois de Smallville, do seriado Lois e Clark e aqui, não seria diferente. Ela está investigando a aparição misteriosa de uma nave espacial congelada em algum lugar no Canadá quando é atacada pelo guardião da nave e recebe uma cirurgia não convencional desse misterioso Clark Kent. Então Lois investiga por onde Clark andou, conversa com sua mãe, resolve publicar sua história, é censurada por seu Chefe, entra em uma nave alienígena, salva o Clark dos Kryptonianos, é salva pelo Clark (várias vezes) e obviamente acaba se apaixonando, assim como Clark se apaixona por ela. E é bem convincente o modo como essa relação é construída. Faz você pensar por quê ele se apegaria a uma desconhecida tão rápido? A resposta é bem óbvia, ela não está ali apenas para ser salva, ela faz o máximo para ajuda-lo, ela verdadeiramente se importa. Por isso soa estranho quando jornalistas de sites especializados (omeleft) dizem que chega a ser bizarro ver eles se beijando em meio a destruição. Eles passaram por tanta coisa juntos, que parece que esta relação seria única. Se esta característica da Lois não é levada em consideração, corre-se o risco de você se perguntar: "O que ela está fazendo alí no meio da confusão?"

O General Swanwick de Harry Lennix é interessante. Em Superman II os Kryptonianos chegam facilmente à casa branca, e ameaçam o Presidente dos Estados Unidos. Zod se acha um deus na Terra uma vez que Superman está desaparecido, é risível a facilidade com que Zod, Ursa e Non, conseguem vencer os americanos em batalha. Em Homem de Aço, as Forças Armadas dos Estados Unidos demonstram toda a sua força militar, chegando a "apagar" Faora com o lançamento de um míssil. As cenas de combate entre soldados americanos e Kryptonianos tanto em Smallvillle quanto em Metrópolis são visualmente incríveis. Zack Snyder não é exagerado como Michael Bay mas consegue mostrar na tela algo grande e realista, como Kal-EL jogando um trem no Nam-Ek, ou quando vários jatos são abatidos ao tentar entrar no campo de força da máquina de terraformar. Mesmo diante a grandeza e grau de dificuldade da situação, Swanwick se mantem firme em proteger a Soberania dos EUA de ameaças alienígenas. Sua desconfiança quanto as intensões do Superman no final do filme, explica bem essa característica do personagem.

O General Zod de Michael Shannon é impulsivo, determinado e violento. Sua inimizade com Jor-El e sua determinação por proteger a Soberania de Krypton o leva as últimas consequências. Zod está disposto a matar Kal-El para extrair o Códex de suas células e transformar a Terra em uma nova Krypton. Não sente arrependimento em confessar para Kal que matou seu pai. Com um Kryptoniano tão agressivo e explosivo somente um homem seria capaz de detê-lo.

O Superman de Henry Cavill é único. Não porque seu uniforme é o mais diferente de todos, não porque é interpretado por um ator britânico e sim porque é construído a partir de uma premissa diferente. Você já se perguntou por quê o 'Super' antes do 'Homem'? Jerry Siegel e Joe Shuster criaram esse personagem para trazer esperança aos americanos. O Superman de 1938 era único. Simplesmente não existiam quadrinhos de Super-Heróis, somente de Heróis. Quando o Superman apareceu, foi algo grandioso. A partir dele, o gênero de Super-Herói se estabeleceu. Se iniciava a Era de Ouro dos Quadrinhos. Entretanto, quando a primeira edição foi lançada, o Superman só pulava prédios, era a prova de balas e corria muito rápido, ele tinha poucos poderes. Com o tempo ele foi ganhando poderes, cada vez maiores, assim como outros personagens foram surgindo como Perry White e Jimmy Olsen e a galeria de super-vilões também cresceu. Sua personalidade e seu modelo de verdade e justiça marcaram-no na história, como um ideal de nobreza, ética e justiça. O Superman escoteiro de Chis Reeve que nunca mente, resgata gatos de árvores e protege inocentes sem uso de violência marcou gerações até que Zack Snyder nos mostrou uma premissa que não deve ser ignorada. Um homem comum, por mais que acredite que seja uma pessoa boa, comete erros, é capaz de mentir, enganar e até matar. Por quê um Super-Homem não seria diferente? Clark cresceu como um humano comum, seu DNA kryptoniano não formou sua personalidade e não fez dele um homem idealizado. No final das contas, seu pai estava certo. Na esperança de saber quem era e qual sua origem, ativou a nave que entregou sua localização para criminosos kryptonianos que não mediriam esforços em fugir da Zona Fantasma e matar todos os humanos para reconstruir Krypton. Clark não é um ser divino, não é um Demiurgo, não é um Ideal, é apenas um homem invulnerável que não pensa duas vezes em usar a força contra um criminoso para impedir que uma família inteira morra na sua frente. Para deter Zod, Clark acaba mantando seu compatriota de Kandor e isso geral muitas críticas negativas ao filme. Pode suar estranho o Superman matar um Kryptoniano, mas ele já fez isso nas HQs. E aqui em Homem de Aço, é o grande trauma que Clark inevitavelmente precisa lhe-dar. Conviver e aprender com consequências de seus atos. Não apenas como um homem comum mas como um Super-Homem.